Meu choque foi imenso, posto que via a mim mesma em cada post dela, em cada amargura, em cada pergunta sem resposta, em cada angústia não compreendida, não verbalizada. Lembrei de como passava noites em claro, me questionando, questionando o mundo e a mim mesma com grande intensidade. Lembrei das crises de choro, do vazio no peito, na dor que doía em algum lugar que eu não sabia bem onde era. Lembrei da gilete, dos talhos nos braços, nas pernas, da dor do sangue escorrendo que escondia por um tempo a dor que a alma sentia. Lembrei de estar em uma idade onde tudo era a ferro e fogo, e as questões políticas, filosóficas e existenciais me consumiam.
Então, não sei bem como, ocorreu essa estranha mudança, essa travessia da água ao vinho (visto que a água é bem mais preciosa, mais necessária que o vinho) e cá estou eu, balzaquiana, entretida nas importantes questões de contas a pagar, aluguel que vai vencer, trocar ou não de carro, comprar novos sapatos...enfim...quando? Como foi que isso aconteceu? Onde eu estava que não me vi mudar? Quando foi que assenti e aceitei? Por quê me deixei levar pelo rio cotidiano, pela maré imunda do conformismo e do consumismo? Por quê eu ainda trabalho num lugar que odeio? Por quê abaixo a cabeça para tudo que um dia me foi tão repugnante? Como foi que eu cheguei aqui e por quê eu continuo aqui se isso me faz tão infeliz?
Olha Roberta, eu não conheci você, mas gostaria que soubesse da minha história. Gostaria que pudesse pesar os dois lados da balança. Morrer de olhos fechados ou morrer pra continuar vivendo? Talvez para mim ainda haja tempo de deixar de ser um Zumbi, uma casca humana recheada de tarjas pretas que imitam emoções fúteis. Talvez ainda consiga achar o caminho que trilhei certa vez, talvez não.
Sei lá se você tomou a decisão certa, guria, mas queria te dizer que eu entendo você.
Heey, brilhe onde estiver, garota!